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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Pai


Seu João, como era conhecido por todos desde que me entendo por gente.

Esta é um pouco da trajetória deste que considero um verdadeiro super-herói, pois hoje sou pai e entendo alguns dos amargos da vida.

Nascido em 10 de Abril de 1928, em uma família simples do interior de Minas Gerais.

Conheceu um mundo bem diferente do que estamos acostumados. Na verdade nem consigo imaginar o mundo que ele viu em tenra idade: sem eletricidade e muito menos televisão ou computadores e no meio de uma mata nativa exuberante aonde vivia.

Para ele a questão mais importante sempre foi a família e sempre teve uma atitude positiva em relação a vida. Sempre soube lidar com o que vida trazia, sem reclamar de nada e fazendo o máximo que podia para que tudo desse certo.

Para garantir o bem estar da família, buscou trabalho fora do nosso estado (Minas Gerais), trabalhou na Bahia, passou fome para poder viajar para ver a família depois de meses fora.

Sempre respeitou a nossa individualidade, minha e de meus irmãos: nunca me pediu para ver meu boletim de escola ou me mandou tomar banho, mas sempre me falou da importância da família, da conservação da natureza, afinal precisamos de um mundo para viver! Isso é o que ele achava mais importante.

Foi muito corajoso durante toda a vida: teve um desentendimento com o Vovô muito jovem, tinha dezessete anos e saiu da fazenda. Casou muito jovem, foi para onde já havia garantido trabalho e moradia para ele e família. Depois chegaram ao Rio de Janeiro, com três filhos e pagando aluguel.

Adiante papai e mamãe, num ato de extrema coragem fizeram um pacto para comprar um terreno: ele trabalharia 14 horas por dia para pagar o terreno e ela lavaria roupas para fora para manter as despesas da casa. Conseguiram: a casa deles está construída neste terreno até hoje, acompanhado de todos os filhos vivos, os netos e até bisnetos. Algo que certamente o deixou feliz, afinal de contas toda a família estava ali, próxima e ao seu alcance.

Quatro noivas tiveram o privilégio de ser conduzidas ao altar por ele. Digo isso porque eu só tenho uma irmã, mas três outras, que o consideravam  pai, pediram se ele poderia lhes levar ao altar, já que não mais possuíam pais vivos, isso foi uma grande honra para ele que teve muita alegria em fazer.

Tristeza pra nós que saímos da companhia de uma pessoa iluminada, mas ao mesmo tempo alivio para ele que andava sofrendo bastante. Alegria pros céus, pros meus irmãos que já se foram, pro Vovô e Vovó, pros irmãos dele, minhas tias e tios, que já partiram para o além.

É isso, o tempo dele aqui na terra chegou ao fim, o fim de um ciclo.


Vai pai, em paz, toda luz do mundo, certamente algum dia nos encontraremos de novo, com a Dhara e o Kiko que deixam saudades.

Esse dia será o mais mais feliz da minha existência.